Rosa é nossa diarista, uma figura para lá das interessantes. Vem aqui sempre aos sábados, lava e passa nossas roupas e arruma a casa destes seres extremamente atarefados.
Rosa é assídua apostadora (compradora) de "engana-trouxas" tais como Toto Bolas, Raspadinhas e afins. Como pouco sabe ler, pede para que confiramos os cartões. Reclama quando não ganha nada (nunca ganha) e acredita sinceramente que seu dia de ganhadora chegará (acho que já ganhou uns vinte reais algures no tempo, acredito eu).
Devido à sua fidelidade e assiduidade, virou amiga e confidente (aposto que conta nossos segredos às outras famílias onde trabalha... parece até que vivo com a família de japoneses das quintas-feiras de tanto que sei de suas vidas), recebeu de minha avó uma promessa de que ganharia um jazigo em um bom cemitério quando morresse.
Rosa detestou a idéia. "Quero sim um caixão!!!" disse revoltada. Alegamos que o caixão é muito mais barato e ela ainda poderia ser enterrada no Jardim da Saudade (que adoro por se tratar de uma belíssima fazenda com jardins muito floridos e instalações confortáveis para um velório). Ela bateu o pé: "Não!!! Esse cemitério é muito afastado de tudo!!! Quero é um caixão bonito!!!".
"Mas Rosa, você quer ser enterrada onde? Na lama?"
"Eu prefiro!!! Eu quero é um caixão bom!!!"
É, caro leitor, cada um sabe como quer passar a vida e a morte...
E também de que adianta uma cova suntuosa? As múmias dos faraós que o digam! Tanta riqueza que acabou por ser saqueada...
Esta filosifia sobre o pós-morte me lembrou uma série de posts d'A Praia de Ivan Nunes, blog português que está entre meus links e que merece sempre uma olhadela.