quinta-feira, outubro 16, 2003

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Mais brasileiros têm telefone em casa do que esgoto


Por Fatima Cristina e Maria Pia Palermo

RIO DE JANEIRO (Reuters) - Mais brasileiros conseguiram ter telefone, geladeira e televisão em 2002 do que acesso a uma rede de esgoto sanitário em suas casas.

No ano passado, a proporção de moradias com telefone correspondia a 61,6 por cento, enquanto apenas 46,4 por cento contavam com rede coletora de esgoto, mostrou a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2002, divulgada nesta sexta-feira.

O acesso a telefones, fixo ou móvel, triplicou comparado a 1992, quando apenas 19 por cento das casas tinham uma linha -- um resultado do aumento da oferta do serviço de telefonia após a privatização do sistema de telecomunicações há cinco anos.

Já a abrangência da rede coletora de esgoto, ainda que tenha aumentado em dez anos -- a taxa em 1992 era de 38,9 por cento --, manteve-se como o serviço com menor cobertura entre os pesquisados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), como abastecimento de água, luz elétrica e coleta de lixo.

Sem esgoto, calçamento e nem iluminação pública na rua onde mora há dez anos, a auxiliar de serviços gerais Kátia Magali da Silva Camargo, 27, conseguiu comprar um telefone, mas ainda espera pelo cumprimento da promessa de que o saneamento chegará a sua rua um dia.

"As pessoas que moram perto do rio fazem um cano ligando a casa ao rio, e tudo é despejado ali. Mas eu, que moro um pouco longe, tenho apenas uma fossa em casa", contou a moradora do bairro Fazendinha, na cidade de Santana de Parnaíba, a 35 quilômetros de São Paulo.

Kátia reconhece que o gasto com telefone pesa em seu orçamento, mas não pretende abrir mão da linha. Casada, com duas filhas e uma renda familiar de 400 reais mensais, ela conseguiu equipar sua casa com fogão, geladeira e televisão.

Segundo o IBGE, a presença desses dois últimos bens aumentou de forma significativa nas casas brasileiras. O número de moradias com geladeira cresceu de 71,5 por cento, em 1992, para 86,7 por cento em 2002.

Em dez anos, o percentual de domicílios com televisão aumentou de 74 por cento para 89,9 por cento, enquanto o rádio, que se mantinha soberano no passado, cresceu de 84,9 por cento para 87,9 por cento no mesmo período. Em 2002, os aparelhos de TV voltaram a superar pelo segundo ano consecutivo o número de rádios.

Ao considerar a renda das famílias, o IBGE constatou que, na faixa de até dois salários mínimos, a televisão tem preferência quando comparada à geladeira. Quase 80 por cento das moradias com esse rendimento têm aparelho de TV, contra 69,1 por cento com geladeira.

CONTRASTES

A falta de saneamento adequado é ainda mais grave na região Nordeste, onde 42,8 por cento das casas contam com rede coletora de esgoto ou fossa séptica, bem abaixo do índice do Sudeste, que chega a 85,6 por cento. No país, quando se soma essas duas formas de esgoto, essa proporção alcança 68,1 por cento dos domicílios.

No que se refere à desigualdade de acesso ao serviço, o presidente da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), Valdi Camarcio Bezerra, lembrou as diferenças entre os municípios, especialmente nos pequenos, com 30 mil habitantes, onde a Funasa vai começar a agir.

"Isto (as diferenças) tem mostrado até agora uma política que não se baseia nos indicadores, mas que se desenvolve naqueles locais em que há mais poder econômico", afirmou.

O professor José Luiz Negrão Mucci, do Departamento de Saúde Ambiental da Universidade de São Paulo (USP), reconhece que não se trata de uma estrutura barata, mas nota que os governos não elegem o serviço como prioridade.

"Você faz saneamento, mas isso é cano e cano ninguém vê. Mas as pessoas se esquecem que isso significa uma saúde melhor e um ambiente mais preservado", disse Mucci.

(Com reportagem adicional de Érica Zanetti em São Paulo)


É... nós brasileiros temos que rever nossas prioridades...